Entre o comercial e o sensorial. Uma sommelière vendendo cervejas com o coração
O Brasil tem hoje milhares de pessoas apaixonadas por cerveja com um copo e um diploma de sommelier em mãos. Mas quem são esses profissionais, cheios de conhecimento sobre estilos, histórias, degustação e sabores? Uma delas é a gerente comercial da StartUp Brewing, Juliana Behr.
A área de vendas de cervejas artesanais é como qualquer outro setor comercial. Precisa matar um leão todo dia, pensar em estoque, reposição, share de envase, próximos lançamentos e as metas que todo mundo tem: beber uma boa cerveja quando acaba o expediente. Ou, no caso da Juliana a trabalho, se ela precisar provar alguma cerveja fermentando, maturando ou em testes sensoriais de qualidade e durante as gravações ao vivo de um novo rótulo pelas redes sociais da cervejaria.
Com um perfil único e paladar apurado para todo tipo de combinação, Juliana atua como gerente comercial da cervejaria desde 2019 e também terá em seu histórico ter segurado a onda durante uma pandemia mundial, vendendo cervejas artesanais, não pasteurizadas e hypadas durante essa fase. Fizemos uma entrevista para conhecer um pouco mais sobre essa sommelière, vendedora, jurada de concursos cervejeiros e apresentadora de lançamentos em lives do Instagram! Foram mais de 50 lançamentos durante os meses de pandemia do Coronavírus e um país continental para atender.
- StartUp Brewing. Qual sua formação de base e quando se formou sommelière?
Juliana Behr: Sou formada em Administração de Empresas com ênfase em Comércio Exterior.
- SB. Por que cerveja e não outra bebida?
J.B. A cerveja foi a primeira bebida alcoólica que bebi e me apaixonei de imediato, sempre senti nela um magia pelo happy hour e descontração. Hoje consumo outras diversas bebidas, até me aventuro em alguns coquetéis e procuro sempre pelo encanto da análise sensorial em cada um deles, mas nada como abrir uma cerveja ao final do dia ou brindar entre amigos.
- SB. Um estilo que você ama e que ainda não tem demanda comercial no mercado cervejeiro brasileiro?
J.B. Difícil essa questão, heim!!!! Amo as Inglesas, sou ré confessa, rsrsrs. Tive a oportunidade de passar férias por 2 anos seguidos na Europa, fiz questão de visitar Alemanha, Bélgica e Holanda e várias cidades nestes países. Foram aquelas férias cervejeiras dos sonhos! Conheci os estilos na sua origem e posso dizer com todas as letras que amo a Kölsch, é o estilo de cerveja que beberia o dia todo.
Acredito que a ausência de demanda tanto pelos estilos ingleses quanto pelo estilo Kölsh se dá pela imaturidade do mercado brasileiro, temos muito a aprender com as origens e, em conjunto explorar o novo.
- SB. Qual o desafio comercial de vender cerveja artesanal no Brasil nos dias de hoje?
J.B. Este assunto não dá pra ser tão breve, mas serei o mais sucinta possível e citarei 2 pontos.
1. A carga tributária de uma cervejaria artesanal é absurda, não temos incentivo dos Governos ou até mesmo do Estado. A cervejaria emprega muitos da sua comunidade local e é esmagada pelos impostos, não existe conta que feche e que não faça a cerveja artesanal chegar ao consumidor final com preços altíssimos. Este ponto dos preços também dificulta o acesso a classes sociais que não possuem condições de comprar.
2. Falta de cultura cervejeira. Fomos criados aqui no Brasil com a cultura da cerveja amarela, translúcida, estupidamente gelada e logo, sem gosto (quanto mais gelada menos sabor e aroma). A hora que as “artesanais” ou “premium” começaram a chegar ao mercado estávamos sem informação. Gostávamos e gastávamos muito com aquela novidade mas não sabíamos o que era. Hoje vejo esses consumidores ainda confusos, que se prendem ao puro malte mas não sabem exatamente o que significa, que se prendem ao IBU mas também ao menos sabem entendê-lo. Cabe a nós profissionais do mercado levarmos a cultura / conhecimento da cerveja e seus estilos para que consigamos mais consumidores com informação.
- SB. Qual estilo cervejeiro que você ama e o paladar dos brasileiros também?
J.B. Complicado confrontar meu amor por um estilo diante da população brasileira e seu paladar. Irei diminuir de população brasileira para população de consumidores de cerveja artesanal rsrs. Adoro American IPA, West Coast IPA e algumas variações de IPA da escola norte americana, nestes últimos anos conheci e aprendi muito sobre lúpulo norte americano seus aromas, sabores, variações e técnicas de adição na cerveja e acredito que os estilos “American” em geral chegaram pra ficar no mercado nacional.
- SB. Pensando em harmonização, algo indispensável para sugerir?
J.B. Churrasco de Picanha ou Fraldinha com Bitter
Torta de banana com RIS (Russian Imperial Stout) clássica. Dark Portrait, será?
- SB. Uma harmonização que não dá certo?
J.B. Macarronada com molho vermelho e American IPA
- SB. Qual sua cerveja favorita do portfólio da StartUp Brewing até hoje e porque?
J.B. Posso escolher 3?
Unicorn IPA - ela é tão redondinha, trás tudo que gosto em uma cerveja pra tomar de jarra. Aroma e sabor de lúpulo na medida e bem presentes. É um custo benefício espetacular.
Ux Brew - First Steps - Já falei que vou montar um fã clube chamado “First Steps”? Essa cerveja foi paixão à primeira vista. É uma Juicy IPA com o lúpulo australiano Ella e adição de coco. Tenho uma memória afetiva com o coco, fez muito parte da minha infância e adoro a fruta. A combinação com o corpo médio alto da Juicy faz com que eu salive de vontade para o próximo gole.
Juan Caloto - La Montanha no és para o niños (Double West Coast IPA) - Sem maiores delongas, essa cerveja é o sinônimo de equilíbrio. Doses extraordinárias de lúpulos cítricos e resinosos em equilíbrio com o corpo alto de 8,3% ABV deixam ela saborosa, refrescante e perigosa.
Em busca de apresentar novos sabores com inovação, tecnologia e experiências diversas, Juliana e o time atendem aos consumidores de Ux Brew. Para os sabores clássicos que estão nas tradições cervejeiras da história e também nas memórias de quem já provou os estilos, mas quer custo benefício, o portfólio tem a linha Unicorn. Para entretenimento, diversão e lançamentos constantes de várias culturas do país, na lista soma-se as marcas e rótulos das cervejas ciganas.
Trabalhar com cerveja artesanal atualmente é ter um pé no lado criativo e na paixão, outro no mundo real, no moderado e no mercado. Profissionais que carregam experiência no nicho e são por si só consumidores, apreciadores, são pessoas com a vontade de conquistar mais espaço com cerveja de qualidade sem abrir mão da cultura cervejeira. Estes são pilares importantes na construção de um mercado que se preocupa em sempre ter o melhor produto para vender, é o caso da Juliana! No nicho cervejeiro artesanal, todo detalhe importa e a qualidade é cobrada na primeira percepção do gole, o cliente é extremamente exigente.
Time comercial da StartUp Brewing, Itupeva, 2021